Quando nasci minha primeira oração foi um berro. Durante nove meses eu estava numa "boa" quando de repente, "vapo!" abri os olhos e não sabia respirar. Uma dor aguda foi aumentando, aumentado, até que não suportei mais; com todas as forças dei o maior berro que podia. Deus ouviu e como resposta respirei.
E continuei orando
.Com fome, eu orava; com dor de ouvido, eu orava; quando sujava a fralda, de novo. Isto foi ficando rotineiro e minha "oração" tornou-se chata. Até que aprendi a falar. Primeiro foi "mamãe", depois "papai", "vovô" - menos vovó, que naquela ocasião já estava com Deus. Não antes de pegar-me nos braços, pequenina, e também sussurar uma oração. Talvez seja por disso que eu tenha o mesmo dom espiritual.
Cresci orando. Cheguei à Universidade, orando. Casei-me, orando. Agora estou batendo às portas dos 50. Precupada, ontem a noite orei assim:
"Ó Senhor, tu sabes melhor do que eu que estou envelhecendo a cada dia. Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião. Livra-me, também, Senhor, deste meu desejo enorme de querer pôr em ordem a vida dos outros. Ensina-me a pensar neles em como ajudá-los sem jamais me impor sobre eles. Mesmo considerando, com modéstia, ser uma lástima não passar adiante a sabedoria que acumulei até agora.
Senhor, Tu sabes que preciso preservar os amigos e uma boa relação com os filhos, e que posso por tudo a perder se ficar intrometendo-me na vida deles. Guarda-me também Senhor da tolice de querer contar tudo muito detalhado e dá-me asas para voar diretamente ao ponto que interessa.
Guarda-me de falar mal de alguém.
Senhor, eu sou doida por novelas, mas elas hoje estão muito "modernas". Outro dia, meu netinho, o Paulinho, entrou de repente na sala, justamente, na hora em que, do nada, apareceu na telona coisas que me fizeram ficar "vermelha". Senhor, o Paulinho me deu a maior "bronca", mais eu sou inocente. Eu preciso de alguma coisa nova para fazer que valha a pena.
Ensina-me a fazer silêncio sobre minhas dores e doenças. Elas estão aumentando e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada ano que passa. Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; seria pedir muito.
Mas, ensina-me, Senhor, a suportar ouvi-las com paciência. Ensina-me maravilhosa sabedoriade saber que posso estar errada em algumas ocasiões. Já descobri que pessoas que acertam sempre são maçantes e desagradáveis. Mas, sobretudo Senhor, nesta prece de envelhecimento peço que mantenha-me mais amável possível.
Livra-me de ser uma santarrona, pois é difícil conviver com os santos. Mas uma velha muito rabugenta, Senhor, pode ser uma obra prima do diabo!
Poupe-me!
Amém!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário